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Título Original: A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água
Escrito por: Jorge Amado

Editora: Record
Lançamento: 1999
Paginas: 52 Páginas
Formato: PDF
Tamanho: 1.9 MB
Idioma: Português

Origem: Brasil
Resumo: 
Jorge Amado  é o maior sucesso editorial dentre os regionalistas, chegando até a inverter a mão de nossa literatura, pois influenciou o Neo-Realismo Português da década de 40. Mas entre a crítica o seu êxito não é tão unânime. Seus analistas mais casmurros, acostumados a James Joyce e Franz Kafka, sentem falta no escritor baiano de ousadias literárias. Assim, recriminam seus textos, acusando-os de dominados por populismo piegas, estereotipias, elementos chulos e descuido formal. Nem mesmo no campo político, que lhe abrira as portas literárias, encontrou unanimidade. Para a direita, é qualificado como panfletário. Para a esquerda, como alienado.

Assim, o conceito sobre o autor não é único. Há os que esquecem injustamente suas primeiras produções, marcadas pelo espírito revolucionário socialista, e dizem que o baiano produz literatura para o mercado apenas. Há os que reclamam de sua “queda final” para a alienação, pois valorizam apenas a fase em que seus textos eram de esquerda. Há, também, os que o consideram o nosso maior escritor, na medida em que faz exatamente aquilo que o leitor (parte importantíssima no processo literário) quer, daí o seu estrondoso sucesso de vendas. E há ainda os mais cautelosos, que enxergam qualidade no escritor, desde que se faça uma seleção de suas obras.

O fato é que não se deve desprezar que Jorge Amado é um bom escritor. Não tem o fôlego de Graciliano Ramos, pois muitas vezes cede ao impulso de delongar a narrativa. E nem tem mesmo a intenção de se igualar ao gigante regionalista, pois sua narrativa não apresenta a tensão crítica dos seus contemporâneos, mas uma tensão mínima, fruto de uma visão encantada e otimista de seu mundo. Seu lugar, pois, é o de cronista da Bahia, um rapsodo popular, o porta-voz da baianidade em textos que ficam entre a poesia e o documento vivo, entre o Romantismo e o Realismo. É uma testemunha que, por meio de sua história-puxa-história, dominada pelo tom de anedota testemunhada, mostra simpatia com seu ambiente e o retrata com fidelidade, ainda que exótica, apimentada.

A narrativa de A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água ambienta-se em Salvador, na época atual, e é apresentada por um interessante narrador em primeira pessoa, pois que é dotado de onisciência. Tudo gira ao redor de Joaquim Soares da Cunha, mais conhecido como Quincas Berro d’Água, apelido gerado pela reação explosiva e indignada ao ter bebido, por engano, água no lugar de cachaça, sua bebida predileta. Por aí já se pode imaginar de que tipo de personagem se trata. Essa idéia pode ser reforçada pelos apelidos que havia recebido: Rei dos Vagabundos da Bahia, O Cachaceiro-Mor de Salvador, O Vagabundo por Excelência, O Filósofo Esfarrapado da Rampa do Mercado, O Rei da Gafieira, O Patriarca da Zona do Baixo Meretrício.

No entanto, nem sempre teve tais predicados. Dez anos antes do início da narrativa, Quincas era funcionário exemplar da Mesa de Rendas Estadual. Levava uma vida respeitável, mas que lhe era sufocante, graças às pressões de uma formalidade vazia e inútil. O rompimento ocorre quando sua filha, Vanda, está para se casar com Leonardo Barreto, uma reprodução fiel do estilo de vida de Joaquim; a diferença é que o jovem está satisfeito com o que tem. Comunicado o noivado e apresentado o rapaz, Joaquim qualifica-o como um coitado. Vanda e Otacília (sua esposa) têm uma reação que é um misto de indignação e incompreensão. Inconformado, Joaquim chama o futuro genro de bestalhão e sua esposa (tão apegada às etiquetas) de jararaca. Sai de casa e transforma-se no Quincas Berro d’Água. Decai socialmente, pelo menos aos olhos de uma sociedade apegada à formalidade, mas encontra sua felicidade em meio a gente da classe baixa, como marinheiros, prostitutas, capoeiristas.

Vindo da classe alta e identificando-se com o baixo estrato, acaba-se tornando o “pai da gente”, no dizer constante de uma das personagens. Por um lado isso revela um paternalismo a idealizar as diferenças sociais gritantes na sociedade baiana. Por outro, serve para enxergar nele um alter ego de Jorge Amado, escritor vindo da elite e que se envolve com o tom, a linguagem, o estilo e o gosto popular. Ambos, criador e criação, acabam mal vistos pelos “senhores sérios e conceituados”. Assim, o destino de um mistura-se ao de outro.

A narrativa inicia-se com a notícia do óbito de Quincas, que se tinha dado de forma fenomenal: havia morrido duas vezes, o que o colocava entre as inúmeras anedotas exóticas que circulavam entre o povo.

Informada por uma padre, sua família, liderada por Vanda (que passa a encarnar o papel repressor da já falecida mãe), resolve cuidar do enterro, na crença de que estava recolocando Quincas de volta ao eixo. Era uma aparente vitória sobre dez anos de completa vergonha a que tinham sido submetidos. Era o fim daquela irreverência, ainda presente no sorriso desafiador e pelo dedão do pé furando a meia do cadáver. Joaquim Soares da Cunha voltaria, por meio de vestes mais adequadas, sóbrias, formais, compradas especialmente para o funeral.

Aliás, o acerto do cerimonial foi um dos aspectos que mais degradou na narrativa a imagem dos parentes, pois não queriam ter sua rotina quebrada. Leonardo estava mais preocupado em não perder o expediente na repartição e não passar vergonha com a notícia. Chora com o que foi gasto para o enterro, assim como Eduardo, irmão do morto, também preocupado com sua firma. A única que dá atenção um pouco mais digna é Vanda, mas aceita a mediocridade do ritual com medo de que algo mais pomposo levantasse a atenção e expusesse a família a uma nova série de comentários vergonhosos sobre o passado do pai.

No entanto, esse domínio é aparente. Em primeiro lugar porque, mesmo de paletó e gravata, mesmo nas vestes da formalidade, o defunto não abandonou seu sorriso de irreverência, o que deixa Vanda agoniada. Seu desespero aumenta quando o falecido começa a, fantasticamente, dizer desaforos como “jararaca”, “saco de peidos” e “bestalhão”.

Além disso, a notícia do falecimento espalhou-se, provocando luto em todos os bairros das classes baixas. Bares fecham. Prostitutas não trabalham. Até que alcança a sua segunda família, mais autêntica porque escolhida. São quatro os seus cavaleiros, são quatro os seus membros: Curió (o primeiro a saber do triste fato), moço de constantes paixões e noivados; Negro Pastinha, gigante de 2 metros, ajudante de bicheiro, bom de briga, mas bonachão; Cabo Martim, que havia dado baixa há 15 anos; e Pé-de-Vento, capoeirista que ganhava a vida caçando animais para zoólogos.

Cientes do acontecimento fatídico, correm para o velório. A chegada acaba gerando uma guerra fria entre formalidade e autenticidade, entre o bairro do Itapagibe e Tabuão, entre a família social e a verdadeira, entre a coerção e a libertação. A primeira vitória é do formalismo oficial, representado por Vanda, que encurrala os perdedores num canto da casa.

Mas o jogo será virado, pois a família biológica não sabe o que é dedicação – preocupa-se muito mais com seus afazeres e obrigações. Vanda retira-se com sua tia por causa do adiantado da hora, pois não pode ficar num bairro tão pobre, perigoso e de baixa reputação. Leonardo retira-se pouco depois, pois tem de estar no expediente no dia seguinte. Tio Eduardo é que devia velar por toda a madrugada, mas por puro comodismo cede espaço ao quatrilho.

Conquistado o terreno, a primeira reação foi de irritação com o desleixo da família, que não teve a capacidade de preparar um velório mais decente – não há comida, cadeira, conforto, nada.

Então, o fato inexplicável. Surge uma garrafa de cachaça. Não se sabia se havia entrado escondida ou se fora comprada depois, mas o consumo dela facilitou as exorbitâncias daquela noite. Começam a dialogar com o morto de forma desabrida, principalmente sobre quem seria o sucessor na posse do coração de Quitéria do Olho Arregalado. Fantasticamente, ou até mesmo por produto de bebedeira, ouvem a reação de Quincas diante de assunto tão abusado. Na crença, pois, de que não estava morto, de que tudo não passara de uma peça, iniciam um diálogo festivo com o “paizinho”. Dão bebida para ele. No final, tiram a roupa social e restituem a antiga. Joaquim voltava a ser o Quincas. Tiram-no do caixão e resolvem passear com ele, tudo num clima de magia surpreendente e festiva. A intenção deles é degustar a moqueca do Mestre Manuel, à beira do mar, junto aos velhos amigos de farra.

A viagem que fazem vai acordando do luto toda a Ladeira, antiga conhecida de Quincas. Até briga conseguem no bar do Cazuza, o que deixa o proprietário feliz, pois aumenta a reputação do estabelecimento. Mas o principal é que Quitéria reconquista sua alegria com o retorno de seu amado. Tudo é mágico. Tudo é encantado. Tudo é cheio de vida e alegria com a notícia de que o seu grande ídolo estava vivo.

Contentes, partem para o mar, ambiente predileto do herói e local em que ele sempre manifestou ter desejo de ser enterrado. É uma noite idílica. No entanto, são surpreendidos por um temporal. Em meio à agitação furiosa das águas, depois de cinco trovoadas fortes, o que dizem ter visto foi Quincas levantar-se e atirar-se ao mar. Morria pela segunda vez, dessa vez justamente no ambiente que queria, adquirindo a liberdade que desejava.







Servidor: Media Fire
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